MIDIAS PARA EDUCADORES E FORMADORES

La vida que voa!!!

Uma Nova Esfera Cognitiva IV

4. O Mundo Viúvo de Si Mesmo

O interesse deste paralelo socio-econômico está na equiva¬lência paradigmática entre os modos de produção econômica, de organização social, de comunicação e de produção da subjetividade. Segundo Neiva (1996) por exemplo, só a revolução industrial podia ver aparecer o modo de produção serial da escrita (imprensa). Do mesmo jeito que o surgimento da mídia de massa era necessário para a estabilização da cultura do grupo diante a sociedade mo¬der¬na, caracterizada pela grande diversificação das formas insti¬tu¬cionais e pela aceleração das mudanças sociais e tecnológicas, preenchendo assim, o vazio deixado pela desestruturação das formas comunitárias tradicionais, no enraizamento do indivíduo na cultura de seu grupo e de sua época. Enquanto na sociedade con¬tem¬porânea, marcada pela desmassificação da produção e das formas organizacionais, principalmente através da segmentação da sociedade em grupos de afinidades, se fez necessária a reformulação da relação da sociedade com seus meios de produção de sentido; daí, a mídia interativa e o processo de convergência...
A comunicação tem, neste sentido, uma função política ideológica e organizacional inerente às relações de poder que sustentam toda organização social, funcionando, portanto, como mecanismo de articulação dos diferentes níveis da estrutura social. É através dela que se adscreve o status de cada categoria da sociedade e se elabora o projeto existencial do grupo em conformi¬dade com os interesses da categoria que controla os meios de produção de sentido (meios de comunicação). Se cada época e cada processo civilizatório segregam instâncias sociais e formas institucionais que lhes são típicas, isto significa igualmente que os sistemas de comunicação refletem a condição existencial e psico¬lógica do grupo. Para nos limitar apenas à história recente, lembramos que ao fordismo correspondia o Estado nacional, a ideologia do modernismo, a sociedade e os meios de comunica¬ção de massa, assim como o individualismo serial, cuja metáfora concreta / emblema de sua solidão gregária seria, sem dúvida, o número de série... Já, no contexto global e pós-moderno atual, a enunciação da subjetividade se torna um processo cada vez mais abstrato e se parece mais com o código genético ou de barra. Ela corresponde, aos níveis social, político, econômico e comunica¬cional, à segmentação transnacional das identidades, ao enfraqueci¬mento do Estado, à flexibilização da organização social e à mídia “costumerizada” representada pela Internet e pela convergência dos meios de comunicação.
Assistimos, assim, no quadro da nova realidade subjetiva contemporânea, à virtualização das relações sociais mais íntimas como a amizade ou o sexo, por via dos meios eletrônicos de reprodução (ou de recalcamento reflexivo) das vivências, que reduzem a enunciação de identidade e a produção de subjetividade a um vulgar exercício de clonagem afetiva de natureza puramente onânica. A construção do self, neste quadro, se torna um jogo ambivalente de aparências combináveis à vontade: uma persona¬lidade para cada estação ou para cada composição vestimentar. Colagem, performances e “superposição de diferentes mundos ontológicos” são, sintomaticamente aliás, as principais caracte¬rís¬ticas da arte global e pós-moderna. Tanto o objeto social como o sujeito estão perdendo de sua unidade, totalidade e perenidade. A tradicional tela desaparece, e os textos, jogos e espetáculos estão se tornando cada vez mais interativos e indefi¬nidos. Enquanto da nova relação entre autor, ator e espectador emerge a figura inédita do “expect-actor”; o sujeito ator/autor em expectativa!...
O que torna problemáticos princípios organizacionais legais como os de propriedade intelectual e de direitos autorais, mas também e principalmente, questões ontológicas que dizem respeito às tradicionais categorias subjetivas implicadas na relação dialógica, e os limites entre o sujeito e os dispositivos tecnológicos nos agenciamentos responsáveis pela produção de vários níveis de nossa subjetividade. As conseqüências existenciais dessa sociabilidade centrífuga, pois, são mais profundas e mais preocupantes do que se imagina: diante a pletora dos referenciais subjetivos e o desdo¬¬¬bramento das vivências possíveis, nosso real se torna move¬diço, impreciso e vaporoso, desprovido da profundidade psicológica e da segurança ontológica inerentes à perenidade da ordem orgânica e à riqueza ritualística das sociedades tradicionais.
Daí a vertigem social generalizada, causada pelo sentimento de incerteza e de inconsistência dos referenciais vigentes. O mundo, sob efeito do fator “V2”, se torna cada vez menos material e mais irreal; como quando se tem dificuldade em acompanhar a trajetória de um projétil. Um mundo no qual a fronteira entre o atual e o pos¬sível não é mais operacional, não é mais capaz de conter a ava¬lanche de futuro em nosso cotidiano, onde o passado deve ser conti¬nua¬¬mente reinventado para dar sentido (e não um sentido...) a nossos atos e nossas aspirações. Os diferentes fundamentalismos e integris¬mos podem ser interpretados, neste sentido, como resistên¬cia a esse processo de velocidade; já que seu objetivo é, justamente, a restauração do tempo divino eterno cujo sentido é direcionado rumo ao momento original fundador do mito primeiro!...
Com efeito, globalismo e localismos são as duas faces de um mesmo fenômeno. Como se pode observar em todas as partes do mundo, pois, a dinâmica da globalização vem provocando uma reação abrupta e muitas vezes violenta por parte das culturas e das identidades singulares ameaçadas pelo trator nivelador da raciona¬lidade ocidental e do mercado mundial. A tensão entre a vontade de enraizamento própria aos particula¬rismos culturais (ou outros) e a força centrípeta do universalis¬mo mercantil constitui, hoje, uma das principais linhas de ruptura tanto nas teorias sociais como nos próprios projetos existenciais de toda organização social. Por isso, neste contexto de ambivalência teórica causada pela superexposição das idéias, se faz necessária e urgente uma reflexão atenta às lógicas de relocalização, sensível às linhas de tensão entre o singular e o universal, capaz de discernir o “todo lugar” do “lugar nenhum”. De fato, ao mesmo tempo que assistimos à interconexão das diferentes partes do planeta no já real “sistema-mundo” e à transna¬cionalização de certos aspectos das culturas locais, se faz cada vez mais insistente o desconten¬ta¬mento e o desacordo com a suposta inelutabilidade do processo, buscando e propon¬do novos modos e novas modalidades de reen¬rai¬¬za¬mento na diferença de seus respectivos “aqui e agora”.
Reações que vão dos mais cruéis e sangrentos enfrentamen¬tos até as mais diversas revoluções moleculares e estratégias micropo¬líticas de reterritorialização, reformulação e reapro¬priação de territórios existenciais e espaços públicos ou comu¬nitários. Vemos hoje florescer em todo o mundo, a elaboração de novas instâncias de produção da subjetividade e de enunciação das singularidades. Os métodos variam e se diversificam, mas o objetivo é o mesmo: Resistir à força devassadora do “todo lugar” que de tanto usar de “lugares comuns” se revela nada mais do que “lugar nenhum”. Terra de ninguém onde a confusão só pode gerar a não-fusão, onde a identidade não passa de parale¬lismos distorcidos pela lente da “onivisão”, por falta de ângulo e de perspectiva particulares.
“Deus! quem odiar..?” (Naipaul: 1973) lamenta o viajante mul¬ticultural, no fracasso de suas tentativas de construir uma iden¬ti¬dade própria a partir de restos/retalhos de universalismo abstrato, recaindo fatalmente em eternos provincianismos. O cosmo¬po¬li¬tis¬mo esvaziado de suas essência e consciência políticas, exacer¬bado pela ideologia mercantilista do “mundo on-line”, é nada mais do que a síntese das falências particulares; um mundo viúvo de si mes¬¬mo enquanto diferença. A diferença, a alteridade tanto enquanto experiência ontológica como antropológica hoje, é, certa¬mente, o último romance épico da humanidade. Um ato heróico (em si) de ser; romanticamente heróico, diante da toda poderosa máquina global aniquiladora das formas outras de subje¬tividade. Se a dialética do mesmo e do outro é a base de todo ato civilizatório (e antes disso de todo ato existencial), a pergunta dolorosa e desafiadora não é mais “ser ou não ser” mas sim “ser outro ou não ser de forma nenhuma”. O nosso (pós) moderno casti¬go sisifiano con¬sis¬te em tentar preservar a integridade de nossa singularidade, num mundo dominado pela semiose hege¬mô¬ni¬ca de uma tecno¬cul¬tura universalista que age por meio de nega¬ção das diferenças ou por sua recuperação consumerista.
Quanto mais forte o desejo de singularização, mais sofisti¬cadas são as técnicas de fagocitação pela centrípeta máquina global que, ao mesmo tempo que produz as subjetividades de maneira serial e clônica, tem o efeito esmagador de tornar os antago¬nismos iguais, tanto na semelhança como na diferença generalizada, esvaziada de sua essência e transmutada em nichos de mercado. A globali¬zação das relações de sentido (práticas de organização simbólica, de produção social de sentido e de rela¬cio¬namento com o real) se traduz, assim, pela ameaça de acha¬tamento de todo relevo social ou cultural diferencial. A substi¬tuição dos “aí”, “ali” e “lá” reais, por um único e despótico “aqui” virtual, total, absoluto e gene¬ra¬lizado, repetitivo e clônico, onde no melhor dos casos, o “Outro não passa de anacronismos do mesmo universalizado” (Sodré, 1996).

Bibliografia

HALBWACHS, Maurice. (1990). A Memória Coletiva. São Paulo: Vertice.
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: Uma Pesquisa sobre as Origens da Mudança Cultural. São Paulo: Loyola, 1993
IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. RJ: Civilização Brasileira, 1995
KURZ, Robert. Folha de S. Paulo, 03/01/99
NEIVA, Eduardo. Comunicação: Teoria e Prática Social. SP: Brasiliense,1999
SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e Meio Técnico-Científico Informacional. São Paulo: Hucitec,1994
SODRÉ, Muniz. O Terreiro e a Cidade. Petrópolis: Vozes,1988
______. Reinventando a Cultura. Petrópolis: Vozes,1996
TOFFLER, Alvin. La 3éme Vague. Paris: Fayard, 1995
______. Les Nouveaux Pouvoirs: Savoir, Richesse et Violence à la Veille du XXIe siècle. Paris: Fayard, 1991
Nota
• Professor adjunto da ECO-UFRJ.1. Vale lembrar nesse sentido que, para a física quântica, o objeto em si tem o mesmo valor que a informação necessária para a sua produção. Daí toda a literatura sobre o teletransporte!...
http://www.facom.ufjf.br/lumina/doc_provisorio/R4-Mohammed-HP.doc

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

0 comentários:

Postar um comentário

 

LISTA DE LIVROS PREFERIDOS

Livro Ilustrado de Lingua Brasileira de Sinais Autor: Márcia Honora / Mary Lopes E.Frizanco Editora: Ciranda Cultural A Casa da Árvore Encantada Autor: Pat Hegarty Editora: Ciranda Cultural O Grande livro do Amor Autor: Trace Moroney Editora: Ciranda Cultural Os mais Belos Contos de Grimm Autor(a): Gustavo Mazali / Poly Bernatene Editora: Ciranda Cultural Categoria: Infantil Olhe Mais Perto - Criaturas do Mar Autor(a): Sue Malyan Editora: Ciranda Cultural Categoria: Enciclopédias Minha Primeira Biblioteca Histórias Bíblicas Autor: A.D. Borrill Editora: Ciranda Cultural Categoria: Bíblicos Editora: Ciranda Cultural Quincas Borba Autor: Machado de Assis Categoria: Literatura O Mulato Autor: Aluísio Azevedo Categoria: Literatura Marília de Dirceu Autor: Tomaz Antônio Gonzaga ategoria: Literatura Lira dos Vinte Anos Autor: Álvares de Azevedo Categoria: Literatura

Linda Mensagem de Perdão

Powered By Blogger
Powered By Blogger

Lista de Filmes

O CAÇADOR DE PIPAS, KELVIM VERSUS KELVIM,NELL,LIBERDADE ELECANDO FILMES SOB A TERRA ( Filmes que trazem catástrofes que poderão ocorrer com a nossa terra) 10,5 – O DIA EM QUE A TERRA NÃO AGUENTOU, 2012 – O DIA DO JUÍZO FINAL, ARMAGEDON, DIAS DE DESTRUIÇÃO, FIM DOS DIAS, LONDRES, METEORO O DIA DO JUÍZO FINAL, O DIA DEPOIS DE AMANHÃ, O DIA DA DESTRUIÇÃO, PARIS 2010, TEMPESTADE, TERREMOTO, TSUNAMI.


PROVÉRBIOS

A terra atrai tanto que os velhos andam curvados.
(Provérbio armênio)
Melhor bem enforcado do que mal casado.
(Provérbio alemão)
Se alguém está tão cansado que não possa te dar um sorriso, deixa-lhe o teu.
(Provérbio chinês)
Só se pode juntar as mãos quando estas estão vazias.
(Provérbio Tibetano)
Começar já é metade de toda ação.
(Provérbio grego)
As lágrimas dos bons caem por terra, mas vão para o céu, para o seio da divindade. (Provérbio chinês)
Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.
(Provérbio chinês)

Oceano - Mares - Rios

Oceano - Mares - Rios

  ©Template designer by Ana by anA.