“Se usar regularmente duas línguas, o sistema
cerebral funciona de tal forma que, de cada vez que fala, os dois idiomas
surgem e o sistema de controlo executivo tem de analisar tudo e seleccionar o
que é mais relevante para o momento. Os bilingues usam mais o sistema e é esse
uso regular que torna os seus sistemas mais eficientes”, explicou Bialystok
numa entrevista ao New York Times.
A cientista verificou que os bilingues são
melhores a executar várias tarefas ao mesmo tempo e até nos testes não-verbais
se destacam em relação aos falantes de uma só língua. O cérebro, explica na
mesma entrevista, assume um funcionamento diferente. E se margem houvesse para
dúvidas, Bialystok afirma: “O bilinguismo faz bem. Torna o cérebro mais forte.
É exercício para o cérebro” – mesmo quando a segunda língua não é aprendida na
infância, desde que seja utilizada de forma muito regular.
Além destas vantagens ao nível da saúde, a investigadora
salienta que aprender línguas é, acima de tudo, importante porque “ajuda-nos a
compreender o outro, outras culturas, outras formas de pensar”.
Amélia concorda. Em Macau a generalidade dos
portugueses fala inglês, mas a tradutora acredita que o facto de falar
português conta a seu favor na altura de fazer amigos: “Para desenvolver uma
amizade precisamos de ter o coração aberto. Se precisamos de comunicar numa
língua que não é a nossa, temos de fazer um esforço e muitas pessoas não se dão
ao trabalho de fazer isso”.
A língua, salienta, “também é cultura” e serve
para perceber “a mentalidade dos portugueses”. Que mentalidade é essa? A jovem
ri-se: “Simpáticos, abertos e, peço imensa desculpa, por vezes preguiçosos.
Sentem que a vida deve ser desfrutada. Nós, os chineses, temos uma noção clara
de que para chegar à felicidade precisamos de fazer um imenso sacrifício”.
O Alzheimer chega mais tarde
A grande descoberta de Elle Bialystok durante a
sua pesquisa sobre os benefícios do bilinguismo foi a de que este atrasa
significativamente os sintomas do Alzheimer. De acordo com testes feitos em 400
pessoas com a doença neurológica, a patologia surge cinco a seis anos mais
tarde em quem assume como sua mais de uma língua. Ao comparar o cérebro de
doentes com exactamente os mesmos sinais de danos cognitivos, Bialystok
verificou que os bilingues tinham danos muito mais vastos, ou seja, a doença
tinha progredido mais, mas os idosos demonstravam maior capacidade de lidar com
ela.
Macaenses mais longe do português
Não se sabe ao certo quantos bilingues ou
trilingues existem em Macau, mas Casimiro Pinto sente que o número tem vindo a
aumentar. Nota, no entanto, uma tendência curiosa: os macaenses,
tradicionalmente próximos do português, estão a colocar os filhos em escolas
inglesas, enquanto os chineses do Continente insistem na aprendizagem do
português. “Não podemos deixar, daqui a uma geração ou duas vamos perder a
capacidade de domínio da nossa própria língua”, diz o macaense. Ainda assim, o
tradutor acredita que o Governo está a conseguir passar eficazmente a mensagem
de que o bilinguismo é a grande vantagem de Macau, por permitir que o
território funcione como plataforma entre a China e os países lusófonos.
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