Origens e Fontes da Dinâmica de Grupo
Por Ariadna Patrícia Alvarez & Milena Rosa
A princípio, a dinâmica de grupo se apresentava para nós como um instrumento simples e "divertido" utilizado para se obter conhecimento sobre um determinado grupo ou ainda para apresentar algo descontraído ao mesmo. No entanto, ao estudar mais profundamente a dinâmica de grupo nos deparamos com a complexidade do seu planejamento, pois o que ocorre, na maioria das vezes, é que o seu uso indiscriminado e com um fim em si mesmo a tem banalizado. A partir disso faz-se necessário buscar os fundamentos desse instrumento tão rico e, ao mesmo tempo, tão sensível para que não estejamos contribuindo para essa banalização e conseqüente fim, mas sim para que possamos obter o conhecimento necessário para podermos aplicá-la de uma maneira sólida e que contribua, assim, para o seu fortalecimento.
Trataremos sobre o nascimento e o desenvolvimento da dinâmica de grupo, as leis do seu desenvolvimento e suas interelações com o indivíduo e diferentes correntes que se interessaram pelo tema.
A Dinâmica de Grupo tornou-se um campo muito difundido nos Estados Unidos no final de 1930, este desenvolvimento e este grande interessem por parte da sociedade como os especialistas em serviço social, psicoterapia, educação e administração, só tornaram-se possível porque as ciências sociais conseguiram esclarecer questões que envolviam o grupo através de planejamento de técnicas de pesquisa para seu estudo, sendo assim, podia-se realizar pesquisas quantitativas e objetivas sobre dinâmica de grupo.
Ao pesquisar sobre a Dinâmica de Grupo nos deparamos com um campo vasto e percorrido por diversos estudiosos que tentaram e tentam até os dias de hoje, obter uma compreensão da natureza da vida do grupo. E algumas condições históricas e sociais propiciaram o aparecimento e o desenvolvimento da Dinâmica de Grupo:
As condições de vida social nos EUA, terra de origem da Dinâmica de Grupo é um país onde se desenvolveram associações de todos tipos. Tal fenômeno social não fez senão crescer o interesse pela Psicologia dos grupos, que viu lá um terreno altamente apropriado para o seu desenvolvimento.
Os EUA no plano industrial, se preocupava com "rendimento" na época da recessão econômica, que determinou o estudo dos fatores de rendimento das equipes de trabalho, por parte dos psicólogos. No plano político, os problemas levantados do nacional-socialismo alemão e pelos seus métodos de propaganda instigaram os dirigentes a programar nas suas pesquisas a análise dos fenômenos coletivos e os meio de ação sobre os grupos humanos. No plano Militar, do mesmo modo que a preparação urgente para a guerra de 1917, favoreceu o desenvolvimento de uma psicotécnica para a seleção de chefes, a preparação para a Segunda Guerra Mundial obrigou os EUA a intensificar as pesquisas sobre os fatores de coesão e eficácia das pequenas unidades.
Outra condição que proporcionou o desenvolvimento da Dinâmica de grupo foi a evolução da Psicologia e da Sociologia. A Psicologia tornara-se objetiva e experimental no final do século XIX, com a criação dos seus primeiros laboratórios. A sociologia, criada oficialmente no século XIX, por Augusto Comte, orienta-se para os estudos das instituições políticas, dos fenômenos coletivos dos grandes grupos humanos e das "mentalidades" sócio - culturais.
A Psicologia interessava-se por problemas do comportamento em grupos, em quanto a sociologia descobria as "subculturas" nas culturas. Assim, as duas ciências irmãs se definiam de acordo com seus interesses, para explorar esse novo campo.
Com a evolução das idéias políticas, outra ciência em desenvolvimento favorecia as pesquisas sobre os pequenos grupos: a Sociologia Política. A evolução interna dos grupos, que leva cada comunidade natural ao pleno usa de seus meios e a plena consciência de si mesma como realidade coletiva autônomo. Essa perspectiva exigia estudo de microssociologia e o inicio de um processo de mudança ao nível dos grupos restritos.
Origens da palavra Grupo:
O nascimento do vocábulo "groppo" ou "gruppo" surgiu pela primeira vez no século XVII, como forma de designar uma forma artística de "retratar um conjunto de pessoas , somente no século XVIII que este termo começou a significar uma " reunião de pessoas". A emergência de um vocábulo é efeito da época, ou seja, é na articulação de um conjunto de práticas sociais, econômicas, políticas, culturais da época que certas formas de arte podem se produzir. Certas formas de artes , certas palavras, certos atos.
Analisando o contexto, o "gruppo" aparece com o renascimento, onde começou-se a revalorizar o homem, época em que houve um reposicionamento das relações indivíduo-sociedade que, até então, eram intermediadas pela a igreja. Com o desenvolvimento da noção de indivíduo, a revolução industrial e a valorização dos espaços privados em detrimento dos públicos, vai se construindo um campo propício ao desenvolvimento dos pequenos grupos, e se definindo o modo-índivíduo (Benevides, 1994).
Uma das fontes diretas da Dinâmica de Grupo foi uma pesquisa feita na usina de Hawthorne pertencente à Western Eletric Company, entre 1927 a 1932 por E. Mayo, professor de filosofia australiano, sobre uma melhoria do rendimento dos trabalhadores que trabalhavam naquela indústria após uma melhoria das condições de trabalho.
A idéia de tal pesquisa a principio não estava clara. Tratava-se de estudar a relação provável entre as condições de trabalho e as variações de rendimentos dos operários. Depois de terem sidos modificadas numerosas condições objetivas (iluminação, calor, umidade, horário de trabalho, numero de pausas, remuneração, e etc.) e após entrevista com grande número de pessoas, os pesquisadores, em 1931, concentram suas atenções sobre os fenômenos psicológicos do grupo nas oficinas. Constataram a importância considerável das reações especificas do grupo e das relações inter-humanas informais, repercutindo sobre o trabalho, o rendimento e as relações oficiais hierárquicas e funcionais. Esta pesquisa traz uma nova inserção da instituição do grupo, pois este aparece neste momento como solução de conflitos. Nasce agora o grupo como intermediário da polêmica indivíduo-sociedade, o que irá despertar grande interesse teórico-técnicos durante nosso século.
A psicoterapia de grupo foi outra fonte direta da Dinâmica de Grupo assim como a pesquisa de Hawthorne. Encontra-se desde os fins do século XIX, a idéia de que o doente mental é, antes de tudo, um inapto social, em conseqüência da impossibilidade de adaptar. Alguns médicos sem coordenação nem doutrina, impulsionados pela Psicanálise de Freud trabalharam na pesquisa de métodos diretos de readaptação social dos doentes através das sua participação em grupos. Para esses médicos, tal participação nos grupos deveriam trazer modificações favoráveis na estrutura da personalidade. Constavam esses fatos sem poder explicar seus mecanismos.
Em 1913, em Viena Jacob Levy Moreno ( hoje conhecido como o criador do psicodrama), participou de experiências de adaptação social de prostitutas, onde o método usado era o de discussões em pequenos grupos. As experiências de Moreno, psiquiatra romeno que observa os efeitos terapêuticos do teatro, criando assim o psicodrama, ou seja, uma passagem da arte dramática à psicoterapia. C, preocupando-se com as relações de simpatia, antipatia e indiferença que existiam entre os indivíduos.
Depois de 1918, lançou vários ensaios de teatro terapêutico em Viena. Emigrando para os EUA em 1925 Moreno começou a trabalhar no sentido do teatro terapêutico. Criando o psicodrama em 1928, e em 1932 preocupando com as relações de simpatia, antipatia e indiferença que existiam entre os indivíduos desenvolveu o teste sociométrico, que nada mais é do que um questionário (elaborado de acordo com as normas precisas) aplicado a todos os membros de um grupo primário e destinado a revelar a estrutura das relações informais dos membros do grupo. As resposta permitem construir as sociomatriz do grupo e seu sociograma (sendo todos os dois representações gráficas), assim como os sociogramas individuais (ou perfil da personalidade social).
"A intervenção sociométrica nos grupos e nas instituições é, portanto, análoga à do psicodrama: trata-se sempre de liberar a espontaneidade e a criatividade, a capacidade de inventar uma história pessoal ou uma história coletiva. Trata-se, portanto, de conhecer os grupos, não com uma finalidade exclusiva de pesquisa, mas, ao contrário, para facilitar as mudanças."( Lapassade, G. (1974), 1977, p. 51/52).
Uma outra fonte atravessa a composição da Dinâmica de Grupo. Em 1944 Kurt Lewin publica num artigo de sua autoria o termo "dinâmica de grupo".
No que se trata de grupos, Lewin foi um grande colaborador, lançando as bases de muitos conhecimentos que são utilizados até hoje. Lewin também teve contribuições nas áreas de métodos de investigação, quando propõe a inserção do pesquisador no campo de pesquisa - "action research".
O grupo humano interessava-se a Kurt Lewin enquanto "conjunto" e "clima psicológico", em relação ao qual se determina as condutas individuais.
Em 1946, trocando Harvard pela Universidade de Ann-Arbor, Lewin integra o centro de pesquisa sobre a Dinâmica de Grupo do Instituto de Pesquisas Sociais dessa universidade. Durante o verão deste mesmo ano Lewin dirigiu uma reunião histórica em Nova Bretanha, de onde nasceu um novo método pedagógico sobre o comportamento de um grupo e o desenvolvimento dos grupos em geral. Sua morte prematura , em 1947, interrompeu infelizmente esses trabalhos.
O que se quer mostra com este trabalho é o desenvolvimento daquilo que passou a ser considerado como Dinâmica de Grupo, não se trata de analisar as contribuições e abrangências de todos estes movimentos falados até agora.
Temos, a partir de todo esse processo histórico de desenvolvimento da Dinâmica de Grupo, técnicas e teorias voltadas para o melhor aproveitamento dos grupos.
Sendo assim, desde Kurt Lewin, o grupo vem sendo utilizado como um meio para fornecer informações e, sobretudo, pra transformar indivíduos.
A Dinâmica de Grupo , como domínio de conhecimento ou de realidade, compreende dois grandes conjuntos diferentes. O primeiro é o conjunto de fenômenos psicossociais que se produzem nos pequenos grupos, assim como as leis naturais que o regem. E o segundo é o conjunto dos métodos que permitem atuar sobre a personalidade através dos grupos, assim como os que possibilitam aos pequenos grupos atuar sobre as organizações sociais mais amplas.
Existem dois sentidos para a expressão Dinâmica de Grupo, um amplo que corresponde ao conhecimento dos fenômenos específicos dos pequenos grupos (ou grupos restritos, ou primários ), assim como os das leis que o regem. E outro restrito, que se refere a uma ação sociopsicológica, que são métodos de intervenção sobre as pessoas ( em grupo) ou sobre os grupos com a finalidade de obter uma "mudança" da personalidade ou da sociedade. Nesse segundo sentido, a Dinâmica de Grupo tem vocação de uma verdadeira terapêutica.
Portanto a Dinâmica de grupo tem como função servir de instrumento terapêutico, meio de formação e treinamento em relações humanas, meio de pressão sobre o indivíduo. O grupo é um meio para se alcançar mudança de hábitos, atitudes e preconceitos.
Existe uma infinidade de técnicas de Dinâmica de Grupo que vão tentar desenvolver nas pessoas qualidades tais como a empatia, o controle emocional, o conhecimento de si mesmo em relação aos outros, a capacidade de ouvir , de convencer e muitos outros aspectos como, por exemplo, a observação de traços da personalidade, características de um profissional de determinada área, etc.
Cada técnica tem uma finalidade: como, por exemplo, buscar maior abertura da pessoa em relação às demais, tirando as barreiras que impedem uma verdadeira comunicação pessoal por causa de tantos preconceitos e condicionamentos que geralmente angustiam as pessoas em relação às outras; procurar despertar nas pessoas o sentido da solidariedade, adormecido pelo individualismo e pelo egoísmo; buscar mais diretamente uma colaboração efetiva, afastando a frieza, a indiferença, a agressividade, o desejo de dominação, o tratamento da pessoa como objeto; apresentar a pessoa como ela realmente é, com suas limitações, deficiências, habilidade e suas tendências positivas e negativas. Contudo, há exercícios que demonstram maturidade grupal, o grau de abertura, de harmonia, e seu ambiente de amizade, de sinceridade, de confiança e de colaboração.
Dessa forma, a escolha de técnicas em dinâmica de grupo deve ser cautelosa. Ao preparar uma sessão, ou várias, pensa-se na melhor técnica para diagnóstico. Principais abordagens do problema da técnica apontadas por Agostinho Minicucci:
1. Deve considerar-se o grupo, seus membros, sua dinâmica interna e externa. O coordenador deve ter em conta os membros, seus interesses, seus impulsos e suas frustrações.
2. A pessoa é uma unidade de material em bruto com que deve trabalhar o condutor de grupos e quanto maior seja o conhecimento do coordenador da conduta humana, em geral, e do indivíduo afetado, em particular, tanto mais úteis e eficazes serão as escolhas feitas.
3. Deve-se principalmente considerar as forças que atuam dentro e fora do grupo. Deve-se, como preliminar de atuação, conhecer as forças dinâmicas internas e externas do grupo.
4. Vários dentre os elementos seguintes ou todos, devem ser considerados na seleção de uma técnica grupal: tamanho do grupo, atmosfera, normas, aptidões disponíveis, controles sociais, identidade, definição de papéis gerais e funcionais de ação - unidade, participação e avaliação.
5. A discussão e trabalho grupal é mais eficaz num grupo pequeno no qual a atmosfera é democrática e permissa e não tensa e inibida.
6. O método de dramatização ou congêneres são perigosos quando os controles sociais, a identidade e avaliação objetiva estão sobre uma base insegura dentro do grupo.
7. Às vezes, se escolhem atividades recreativas ou musicais para eliminar a estratificação do status em grupo, mas se empregam técnicas inoportunas, podem em realidade aumentar a hostilidade e a tensão.
8. A escolha de uma técnica, efetuada pelo coordenador, também estará afetada pelo que ele vê quando considera a dinâmica grupal.
9. As técnicas combinadas são, em realidade, a regra e oferecem melhor resultado que as técnicas isoladas.
10. Quando se utiliza uma técnica para avaliação, o coordenador deverá refletir num fator importante e significativo que é o interesse e motivação dos participantes pelo processo.
11. É importante compreender a "personalidade do grupo", sua dinâmica interna e externa e ter uma visão clara dos objetivos e metas atingidas pelo grupo.
12. O coordenador deverá ter uma compreensão das técnicas básicas e fundamentais e do que se pode esperar de cada uma delas, a fim de poder escolher eficazmente a técnica adequada a cada situação.
- É indiscutível que cada técnica tem um potencial definido para a modificação das forças do indivíduo e do grupo para dirigi-las às metas grupais.
Ter um roteiro em mãos para a realização da dinâmica é de fundamental importância. Portanto, conheça mais sobre o assunto e aprofunde seu conhecimento sobre o grupo para que suas reflexões constate o perfil do grupo.
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