Documentário
Por Jean-Claude Bernardet
Num debate que ocorreu em Moçambique por ocasião da 1ª edição do DocTV CPLP (Comunidade dos países de Língua Portuguesa), um professor português lembrou as origens do uso da palavra “documentário” na segunda metade dos anos 1920. De fato, o termo se consolidou nos escritos de John Grierson, líder do movimento britânico de documentário nos anos 1930.
Mas de lá para cá a palavra se transformou. Não se pode dizer hoje que o documentário seja um gênero cinematográfico, tamanha a quantidade e diversidade de estratégias, procedimentos, finalidades etc. que ele abrange. O termo DOCUMENTÁRIO se tornou tão elástico, tão extenso, e por conseguinte tão pouco definido quanto o termo ROMANCE. Romances são GRANDE SERTÃO: VEREDAS ou ELES ERAM MUITOS CAVALOS ou SÃO BERNARDO ou NAS SERRAS DA DESORDEM ou MONGÓLIA ou. Documentários são SANTO FORTE ou JESUS NO MUNDO MARAVILHA ou SANTIAGO ou MANHATTAN TRANSFER ou AMEI MEU IRMÃO ou CORREIO NOTURNO. A extensão e a imprecisão não são a fraqueza de “Romance” ou “Documentário”, mas a sua riqueza. Eles podem acolher procedimentos tão regrados e repetitivos como os enigmas dos best-sellers ou as entrevistas, e podem acolher objetos literários/cinematográficos de difícil identificação. É essa elasticidade que lhes permite absorver toda uma produção confusa mas rica, dinâmica e em busca de seus temas e formas, toda uma produção de experimentação, tentativas, erros e acertos.
Então que não se venha falar em regras e modelos, mesmo no quadro de um DocTV.
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