MIDIAS PARA EDUCADORES E FORMADORES

La vida que voa!!!

TECNOLOGIAS: PRA QUE TE QUERO?

TV Escola e Formação de Professores

Gabrielli Lima Araújo Silva1

Sintese
Esta pesquisa está inscrita no projeto “As tecnologias da informação e da comunicação nas políticas de formação de professores: os sentidos da reconfiguração de trabalho-formação docente”. Como recorte, focaliza o discurso sobre o professor e sobre seu trabalho em um programa de televisão, Viagens de Leitura, do TV Escola, que é um canal de televisão exclusivamente dedicado aos educadores e alunos do ensino fundamental e médio, organizado pelo MEC. O canal da educação, como é conhecido o TV Escola tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores e sua formação no próprio local de trabalho, enriquecendo o processo de ensino-aprendizagem para incentivar a aproximação esolacomunidade.

Como projeto importante da política atual de EAD, o TV Escola carece de alguns ajustes, alterações e mudanças de concepções. Pretende-se, portanto, analisar como esses professores vêm sendo considerados, analisados e formados sendo orientados por um discurso que os representa como “tarefeiros”, “facilitadores”, “animadores” . Embora diferentes entre si, Quem forma se forma e reforma ao formas e quem é formado forma-se e forma ao ser reformado. Paulo Freire.
Aula para o professor com as “tias” do Viagens de Leitura O professor chega na sala de professores, liga a televisão, põe no Vídeo Cassete uma fita da série Viagens de Leitura do programa TV Escola. Aperta o play e inicia sua viagem: “Bom dia (Duas apresentadoras, hegemonicamente bonitas, apresentavam o programa). Como você pode reparar o programa de hoje irá falar sobre DUPLAS. As duplas, tanto no futebol como na música e nas artes são um formato muito inventivo que abrem mil possibilidades aos criadores. É isso! Nós iremos falar em como criar um texto coletivamente. É, vai ser uma espécie de tabelinha! Assim como no futebol...” Pausa no vídeo cassete... vão ser dois tipos de tabelinha: além dos alunos formarem uma dupla entre si, eles vão formar uma dupla com um autor de um texto! - Sorriso cativante das moças - É isso! E essa parceria com o autor só vai acontecer porque hoje nós iremos inventar só o final de uma história (Sorriso duplamente expressivo e ainda mais cativante). Nós iremos
pegar o início de uma crônica e vamos inventar um final pra ela. Vai ser muito legal! Trabalhar em dupla é sempre muito legal. Nem sempre... (responde a outra apresentadora).
Mas vamos ao nosso programa de hoje”. Professor ainda sentado, papel e caneta nas mãos. A série segue se desenvolvendo com entrevistas de artistas famosos da época, como o jogador de futebol Túlio e uma dupla de cantores sertanejos João Paulo e Daniel. Os convidados falam em como atuam com suas duplas, Túlio pronuncia “no futebol hoje é raro você ver uma tabela, porque a marcação é muito dura e quando isso ocorre é porque realmente houve um entrosamento muito grande entre os jogadores e confiança. O jogo fica mais bonito”. João Paulo e Daniel continuam “Cantar em dupla é uma coisa muito importante pra gente, não só para gente como para toda dupla. É mais fácil, é mais gostoso, é mais divertido”. Terminadas as entrevistas a apresentadora recomeça. “Vamos então ao nosso exercício! Como eu ia dizendo, nós vamos hoje inventar um final para uma história.
Essa história deve ser curta e perto do final deve ter um momento de suspense, desse momento em diante é que os alunos irão trabalhar o texto. Mas, melhor do que eu ficar aqui contando como deve ser o exercício vamos ver como foi feito no Centro Educacional de Vila Isabel pela professora Aurélia.”
PASSO 1:
Professora Aurélia pela TV: Eu vou contar uma história e vocês vão fazer o final dessa
história e essa atividade será em duplas. Vamos dividir a turma em duplas.
PASSO 2:
Professora Aurélia começa a ler seu texto.
PASSO 3:
Professora Aurélia: Agora cada dupla deve escrever um final para essa história que foi
lida. Eu vou ler de novo a história onde vocês irão escrever, vão anotar as expressões mais
importantes, as palavrinhas que vocês acharam mais importantes dessa história!
PASSO 4:
1ª apresentadora: Depois dessa nova leitura as duplas conversam e decidem escrever o seu
final para a história, nessa hora o professor deve ajudar os alunos passando pelas
duplas, ele deve conversar com as crianças e ver como cada uma das duplas está
trabalhando.
PASSO 5:
2ª apresentadora: O passo seguinte, professor, é ler o que foi escrito para a classe.
Professora Aurélia lê o final original da história que o autor escreveu.
PASSO 6:
Na tela, Professora Aurélia fala: Eu estou distribuindo a história que nós começamos a ler,
vocês agora vão ler o final da história. Crianças lendo seus finais e também dando suas opiniões.

Dados os passos e as tarefas cumpridas, a continuação da série Viagens de Leituras se deu com a declaração pelo vídeo da escritora Eliana Yunes, em um recorte do programa no quadro “Ponto de Vista”: Pode parecer ocioso repetir sobre a importância da leitura no processo de aprendizagem e no desenvolvimento da escrita. Todos nós, professores, educadores, sabemos disso. O que não sabemos é como e porque a leitura determina a viagem que uma criança faz pelo conhecimento, e como a leitura pode acrescentar ao seu domínio da escrita. Ler é pensar, é interpretar e o conhecimento não se adquire por memorização, é adquirido pelo pensamento crítico. Conhecer é transformar o que não conhecemos naquilo que conhecemos. Esse exercício é pronunciado pela leitura interpretativa pela leitura que faz do leitor aquele que dialoga com o autor e com o texto.
Terminada a fala da escritora, reaparece na tela uma das apresentadoras, com o sorriso novamente estampado no rosto. “O nosso exercício de hoje serviu para várias coisas, uma delas foi mostrar para as crianças que o trabalho em dupla pode ser muito criativo e que a gente pode somar as nossas idéias com as de outra pessoa e chegar a um resultado bem legal.” Segunda apresentadora: “Em relação ao texto, este serviu para fazer com que os alunos consigam ter coerência na criação de uma história. Hoje, fazendo só o final daquela crônica eles tiveram que manter uma certa linha narrativa, por exemplo eles não podiam fazer o personagem voar e pronto. Eles tiveram que seguir uma certa lógica que já existia no texto, eles tiveram que mostrar uma certa coerência, um certo nexo - e a coerência é importante para a gente ler, escrever e até para a gente pensar melhor. Por hoje é só.” Fim do programa. O professor desligou a TV e o Vídeo.

Contextualizando o TV Escola

Sabemos que o TV Escola é um canal de televisão exclusivamente dedicado aos educadores e alunos do ensino fundamental e médio, organizado pelo Ministério da Educação – MEC. A partir da década de 1990 o governo federal vem oferecendo um conjunto de políticas públicas para a formação de professores, com o uso e suporte das Tecnologias da Informação e Comunicação - TIC. Entre estas políticas, está o TV Escola que está no ar desde Março de 1996. O canal da educação, como é conhecido o TV Escola tem, a princípio, como objetivo, contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores e sua formação no próprio local de trabalho, enriquecendo o processo de ensino-aprendizagem para incentivar a aproximação escola-comunidade.
É importante registrar que, com o amadurecimento do programa e dos atores neles envolvidos, novas oportunidades e novos patamares poderão ser alcançados, especialmente com a confluência tecnológica entre computadores e a Tv Digital (MEC, 2002). Com a intenção de elevar a qualidade da educação no Brasil e a “democratização” do ensino básico o programa vem se aperfeiçoando constantemente e temos como prova da evolução, os cursos de extensão a distância que são propostos e a quantidade de escolas “beneficiadas” com os kits tecnológicos2 distribuídos, que garantem imagem e áudio de excelente padrão. A transmissão, que antes era analógica, passa a ser feita por sinal digital, via satélite, e a implantação de um canal de tevê voltado para a escola, incentiva e amplia a capacidade dessas escolas de receberem os programas de ensino a distância. 2 O Kit tecnológico, denominado Programa de Apoio Tecnológico – PAT – constitui a base material para o TV Escola, composto por uma TV, um Videocassete, uma antena parabólica e dez fitas de vídeo para gravação dos programas. Foi recebido por escolas que possuem mais de cem alunos.
O TV Escola não aparece para substituir os professores, mas sim “treiná-los” e apoiá-los em sala de aula, encontramos aí o x do problema. Os professores que usam os programas, quando o fazem, utilizam para atividades com os alunos, nesta situação o Viagens de Leitura entra em sala de aula como pretexto para ser lançado algum conteúdo, de maneira descontextualizada, escassa e sem continuidade. No caso do nosso professor citado no início, ora aparentemente o objetivo da série é ensinar as relações de companheirismo, ora o objetivo passa a ser melhorar a qualidade de leitura e aprimorar a criatividade. Os programas que são passados pelos professores dentro de sala deveriam estar diretamente relacionados ao tipo de assunto trabalhado em sala mas nem sempre é o que acontece, de modo que não há espaço para uma discussão crítica a respeito do que foi assistido, não avançando para outras esferas que também pudessem ser importantes.
Não foi dita em qual “realidade” esse professor trabalha. Mesmo com as realidades distintas no que se refere ao cotidiano, podemos observar que, em relação à forma com que a escola lida com um dos produtos televisivos (Viagens de Leitura) nas práticas de sala de aula, ela apresentava aspectos comuns acerca do que vem sendo orientado discursivamente para uma representação do professor (“tarefeiro”, “facilitador”, “animador”). Já que os programas educativos tendem a só serem “permitidos” em sala de aula quando seu veículo de transmissão - a televisão - estava sendo utilizado concretamente pelo professor, ou seja, o Viagens de Leitura chegou na sala cumprindo a tarefa do professor enquanto este apenas reproduziu em sala o que foi passado pela TV.
Podemos caracterizar como motivos para a entrada e formas de utilização do programa como substituição ou como atrativo ou ainda modo de favorecer a atratividade. Assim, mesmo o professor tendo selecionado um determinado programa para ensinar sobre a importância da produção textual coletiva, essa escolha parecia não dependente de critérios, porque não seria desenvolvida nenhuma atividade extra relativa ao programa. A aula obedecia a sua seqüência programada, não sendo dada a sua devida importância da atuação do professor lecionando como um momento de produção de saberes; além do fato principal dentro de sala de aula: a autonomia do professor, passando a ser limitada. Como descrito, raramente o programa da TV deixou margem a outras interpretações, perguntas, discussões, intenções, diálogos. É importante fixar que não se trata de uma crítica direcionada ao programa em si, a análise vai para além dos muros das imagens do TV Escola. Trata-se de analisar como os sentidos acerca do professor vão sendo orientados pelos discursos caminhando para uma representação do professor.
Atuando como “didáticos”, esses programas tendem a assumir o papel da objetividade, clareza, transparência e rapidez, já que um programa deve durar o tempo exato de uma aula e deve orientar ao máximo ao educador no que fazer, como fazer, de que forma fazer.
Cabe assim, ao professor apenas controlar o tempo entre uma atividade e outra, organizar a turma e mais precisamente, como forma de “pasteurização”, o programa exclui a análise que depende do objeto, finalidade, fato ou fenômeno que está sendo focalizado na aula.
Considerações Finais
Analisando as atuais políticas educacionais de formação de professores, podemos perceber a grande semelhança entre as decisões dos gestores do sistema educacional e as propostas de formação de professores presentes nos documentos de organismos internacionais, especialmente o Banco Mundial3, quando sugerem a rapidez na formação, privilégios para a formação continuada, pouca preocupação com a formação inicial nas universidades e principalmente o uso da educação a distância (EAD).
Como projeto importante da política atual de EAD, a TV Escola carece de alguns ajustes, alterações e mudanças de concepções. Sabemos que em determinados assuntos sua discussão e reflexão não cabe apenas em uma aula-apoio para o professor via vídeo. O professor passa a ser, mais uma vez, apenas um facilitador como se todas as mediações didáticas pudessem ser trabalhadas de forma recortada, separadamente, dando como resultado um ensino competente.
Existe a noção de que há um modelo de ensino válido para qualquer situação e que, portanto, o problema será resolvido fornecendo o modelo a ser seguido, o que abre espaço para a crença de que as TIC são uma alternativa para dar conta, de modo econômico, objetivo e eficaz ao desenvolvimento da formação dos professores e das competências exigidas para a docência. Sendo assim, os novos materiais didáticos que vem sendo 3 Sobre a temática ver BARRETO, R.G. Tecnologia e educação: trabalho e formação docente. Educação & Sociedade, Campinas, v. 25, n. 89, p. 1181-1201, dez. 2004. aparelhados, usando as TIC como suporte, não se distanciam dos velhos materiais que propagam uma competência mais adequada para o educador, que seria repensar sua ação perante métodos, não fugindo assim do reducionismo. É o que tem ocorrido, por exemplo, com a Série “Viagens de leitura”: paralelamente à insistência de que decisões cabem ao professor, os passos para a realização das atividades são repetidos e, algumas vezes, acompanhados pela imagem de pegadas deixadas na areia molhada (Barreto, 2002). É importante dar ênfase que não se tratam apenas de novos meios, suportes ou formatos. Trata-se de como esses professores vêm sendo considerados, analisados e formados. Assim, surgem novos desafios para a prática educativa, sinalizando para a necessidade desses desafios de nossa sociedade, que é regida pela informação e comunicação.

Referências
BARRETO, R. G. A apropriação educacional das tecnologias da informação e da
comunicação. In: LOPES, A. C.; MACEDO, E. (Org.). Currículo: debates contemporâneos.
São Paulo: Cortez Editora, 2002, v. 2, p. 216-237.
BARRETO, R. G. Tecnologias na sala de aula. In: LEITE, Márcia; FILÉ, Valter. (orgs.).
Subjetividades, tecnologias e linguagens. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002, v. 1, p. 43-
55.
GUIMARÃES, G.; FERREIRA, Rodolfo. Televisão e formação profissional: o discurso
sobre o trabalho docente. In: XIII Congresso da ASSEL-RIO, 2007. Linguagens para o
terceiro milênio, 2007. p. 1-2.
TOSCHI, Mirza Seabra. Formação de professores e TV Escola: In: XIII Reunião da
ANPEd. Disponibilizado em CD rom; Caxambu, 2000.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

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Livro Ilustrado de Lingua Brasileira de Sinais Autor: Márcia Honora / Mary Lopes E.Frizanco Editora: Ciranda Cultural A Casa da Árvore Encantada Autor: Pat Hegarty Editora: Ciranda Cultural O Grande livro do Amor Autor: Trace Moroney Editora: Ciranda Cultural Os mais Belos Contos de Grimm Autor(a): Gustavo Mazali / Poly Bernatene Editora: Ciranda Cultural Categoria: Infantil Olhe Mais Perto - Criaturas do Mar Autor(a): Sue Malyan Editora: Ciranda Cultural Categoria: Enciclopédias Minha Primeira Biblioteca Histórias Bíblicas Autor: A.D. Borrill Editora: Ciranda Cultural Categoria: Bíblicos Editora: Ciranda Cultural Quincas Borba Autor: Machado de Assis Categoria: Literatura O Mulato Autor: Aluísio Azevedo Categoria: Literatura Marília de Dirceu Autor: Tomaz Antônio Gonzaga ategoria: Literatura Lira dos Vinte Anos Autor: Álvares de Azevedo Categoria: Literatura

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(Provérbio armênio)
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(Provérbio chinês)
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(Provérbio Tibetano)
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(Provérbio chinês)

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