Nasce uma língua indígena
O emocionante trabalho de um professor indígena ressalta a importância de uma atividade esquecida: a passagem da linguagem oral para a escrita
Os índios paiteres-suruís são um grupo nômade, com aldeias em Mato Grosso e Rondônia. Escolarizados, os mais jovens e os líderes da comunidade aprendem a falar e escrever em português. Mas, entre si, continuam se comunicando na língua de seus antepassados, o paiter. Como na maioria dos povos indígenas, não havia até 2006, entre essa etnia, escrita que representasse o que se fala. A história e a cultura do povo eram transmitidas apenas oralmente. Porém, com a mobilização da comunidade, de associações indígenas, de especialistas da Universidade de Brasília (UnB) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), o paiter ganhou um alfabeto e regras gramaticais. Nasceu uma língua. Um dos palcos desse processo foi uma sala de aula. Seu protagonista, um professor indígena.
Morador da zona rural de Cacoal, a 485 quilômetros de Porto Velho, Joaton Suruí participou da iniciativa que, entre 2006 e 2007, tornou possível registrar a escrita paiter. Com a orientação de linguistas e antropólogos, ele participou de oficinas que resultaram nas normas e no alfabeto da língua. Fim de papo? Não. "Uma língua escrita sem uso é uma língua morta", ensina o professor (leia o quadro ao lado). "Para que o paiter não morresse logo após ter nascido, senti a necessidade de mostrar às crianças sua utilidade."
Como não havia nada escrito em paiter nas aldeias - nenhum panfleto, placa de rua, jornal ou revista -, a escola passou a ser o principal caminho para a disseminação do registro da língua. Joaton tomou as rédeas desse processo. Lecionando para uma turma multisseriada de 6º a 9º ano da EIEEF Sertanista José do Carmo Santana, ele desenvolveu um projeto para ensinar a nova escrita com seus 13 alunos - todos indígenas como ele. A forma escolhida foi a confecção de um livro, escrito e ilustrado pelos estudantes. "Eles ficaram ansiosos com a responsabilidade. E com razão: quando for lançado, o livro será o primeiro publicado em nossa língua materna."
EIEEF Sertanista José do Carmo Santana, R. Geraldo Cardoso Campos, 4343, 76961-517, Cacoal, RO, tel. (69) 3443-1262O emocionante trabalho de um professor indígena ressalta a importância de uma atividade esquecida: a passagem da linguagem oral para a escrita
Os índios paiteres-suruís são um grupo nômade, com aldeias em Mato Grosso e Rondônia. Escolarizados, os mais jovens e os líderes da comunidade aprendem a falar e escrever em português. Mas, entre si, continuam se comunicando na língua de seus antepassados, o paiter. Como na maioria dos povos indígenas, não havia até 2006, entre essa etnia, escrita que representasse o que se fala. A história e a cultura do povo eram transmitidas apenas oralmente. Porém, com a mobilização da comunidade, de associações indígenas, de especialistas da Universidade de Brasília (UnB) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), o paiter ganhou um alfabeto e regras gramaticais. Nasceu uma língua. Um dos palcos desse processo foi uma sala de aula. Seu protagonista, um professor indígena.
Morador da zona rural de Cacoal, a 485 quilômetros de Porto Velho, Joaton Suruí participou da iniciativa que, entre 2006 e 2007, tornou possível registrar a escrita paiter. Com a orientação de linguistas e antropólogos, ele participou de oficinas que resultaram nas normas e no alfabeto da língua. Fim de papo? Não. "Uma língua escrita sem uso é uma língua morta", ensina o professor (leia o quadro ao lado). "Para que o paiter não morresse logo após ter nascido, senti a necessidade de mostrar às crianças sua utilidade."
Como não havia nada escrito em paiter nas aldeias - nenhum panfleto, placa de rua, jornal ou revista -, a escola passou a ser o principal caminho para a disseminação do registro da língua. Joaton tomou as rédeas desse processo. Lecionando para uma turma multisseriada de 6º a 9º ano da EIEEF Sertanista José do Carmo Santana, ele desenvolveu um projeto para ensinar a nova escrita com seus 13 alunos - todos indígenas como ele. A forma escolhida foi a confecção de um livro, escrito e ilustrado pelos estudantes. "Eles ficaram ansiosos com a responsabilidade. E com razão: quando for lançado, o livro será o primeiro publicado em nossa língua materna."
Joaton Suruí
http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/nasce-lingua-432059.shtml
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