Uso de música em sala de aula facilita o aprendizado, aponta estudo
A
música facilita o ensino da história pois cria empatia entre aluno e
professor e forma um referencial de memória para os alunos, facilitando,
assim, sua relação com o conteúdo. É o que diz Milton Joeri Fernandes
Duarte, autor da tese de doutorado A música e a construção do conhecimento histórico em aula, defendido em maio na Faculdade de Educação (FE) da USP, sob orientação de Katia Maria Abud Lopes.
“A música forma um referencial de memória. Por isso existem as músicas que marcam a vida de uma pessoa.”
Graduado
em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP e professor de história desde 1987, Duarte afirma sempre
ter utilizado música em suas aulas. Foi a partir da sua experiência em
classe que ele resolveu estudar até que ponto a linguagem musical
auxilia no ensino da história e como professores e alunos que não
possuem conhecimentos de linguagem musical conseguem trabalhá-la em sala
de aula.
Para
responder tais questionamentos, o pesquisador acompanhou durante o ano
de 2007 as aulas de uma professora de história para alunos da quinta
série da rede municipal de São Paulo. No ano seguinte, ele selecionou 8
dos alunos da turma, 4 meninos e 4 meninas. Ele os entrevistou para
saber os seus gostos musicais e, principalmente, qual era a relação que
eles faziam entre o conteúdo e as músicas apresentadas pela professora.
“Nas
entrevistas fiz o procedimento contrário ao que era feito na sala de
aula. Apresentava pequenos textos que falavam sobre os conteúdos
ensinados pela professora e perguntava o que aquilo os lembrava. Todos
os alunos referiram-se às músicas ouvidas nas aulas e, de certa forma,
isso os ajudava a lembrar partes do conteúdo”, afirma.
A
partir dos estudos teóricos, da análise de campo e das entrevistas,
Duarte chegou ao conceito de consciência musical. “A música forma um
referencial de memória. Por isso existem as músicas que marcam a vida de
uma pessoa”, afirma.
Esse
conceito é ligado à consciência histórica, que é a forma como a pessoa
se posiciona perante a sociedade e os fatos históricos, dependendo da
experiência de vida e das situações sociais e econômicas que ela vive.
Dentro
da sala de aula, a música aproxima a memória individual do professor
com a dos alunos. A maior parte da consciência musical não é criada na
escola, mas vem do cotidiano familiar. Por isso é necessário que o
professor contextualize as canções que mostre aos alunos e que se
proponha a conhecer o que os alunos gostam de ouvir para haver maior
empatia entre eles.
“Nas
aulas que analisei, toda sexta-feira um aluno levava um CD que ele
gostava de ouvir em casa para a classe e a turma o escutava. Funcionava
como se a professora dissesse ‘eu ouço a música de vocês, então vocês
ouvem a minha’. Facilitava a aceitação dos alunos com as músicas
passadas pela professora”, conta Duarte.
Música e realidade
O
pesquisador retoma uma ideia de Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do
século 19, que diz que a música é o máximo da expressão artística, é a
arte que mais se aproxima da realidade por ter maior carga emocional que
as outras.
“As
pessoas são tocadas emocionalmente pela música. Por isso professores e
alunos que não dominam a linguagem musical conseguem trabalhá-la em sala
de aula”, explica. Segundo Duarte, mesmo aqueles que entendem de música
são inicialmente atingidos pela emoção. “Só depois que a pessoa pode
parar e pensar com o conhecimento técnico que ela tiver”.
O
autor do trabalho afirma que a música é pouco utilizada em sala de
aula. “Muitos professores têm medo de os alunos não receberem bem as
músicas, acharem que são velhas, etc. Mas é preciso contextualizá-las
com os alunos, criar empatia para elas serem bem utilizadas”, explica.
Ele
ainda diz que o professor que usa música em aula se torna um marco na
vida dos alunos. “Eu encontro ex-alunos na rua que me cumprimentam e
lembram de determinada música que foi passada em sala de aula. Eu mesmo,
ao ouvir uma canção medieval na televisão, certa vez, lembrei que já a
havia cantado na sexta série, na aula de um professor de Português que
também era maestro, chamado Roberto Martins”, revela.
Fonte:portal.aprendiz
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