A lição do exemplo
Por
Gabriel Chalita
O conhecimento fica registrado na memória. O
exemplo fica registrado no coração. Esta é a síntese da pedagogia perfeita:
ensinar dando exemplos, ensinando pelo exemplo.
Pela atitude o professor ensina
posicionamento diante da vida, apoia desejos, estimula sonhos. E o mais
poderoso instrumento da atitude é a palavra. É pela palavra que se constrói e
se destrói. A palavra é a arma capaz de reduzir o outro a mero espectador da
história ou transformá-lo em protagonista.
A palavra incentiva ou diminui; alimenta os sonhos
ou destrói esperanças; faz viver ou faz morrer. Quando a palavra é dita, não há
como impedir os seus efeitos. É como a sabedoria chinesa prega: "Há três
coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a oportunidade perdida e a
palavra pronunciada".
A palavra entra na mente dos ouvintes e, se destrói
sentimentos puros que o habitavam, daí vem o preconceito. De uma palavra mal
empregada pelo pai ou pela mãe, pelo diretor ou professor, por algum amigo que
tem alguma importância e por isso o que ele diz deve ser levado a sério.
No reino da infância, as defesas são menores, e por
isso o poder de destruição da palavra é muito maior. Isto porque a criança
ainda não conseguiu desenvolver defesas. Às vezes essa força destruidora não
vem de uma reprimenda ou de uma agressão verbal, mas da sutileza de um
ensinamento inadequado.
Uma piada preconceituosa, um comentário infeliz em
que pais comparam seus filhos, um discurso incorreto frente a uma criança que
sente que não tem determinado talento. É necessária muita delicadeza para não
ferir os sonhos alheios. É necessário muito cuidado para não traumatizar um ser
em formação.
De outro lado a palavra constrói. Pequenas
reflexões, se possível recheadas de exemplos, ajudam muito mais do que longos e
cansativos conselhos. Cecília Meirelles tem uma frase exemplar: "Liberdade
é uma palavra que o sonho humano alimenta; não há ninguém que explique e
ninguém que não entenda." A sutileza é poderosa.
Palavras de amor se revestem de impressionante
poder, quando são sinceras, quando são, de fato, palavras de amor. Impulsionam
a derrubar o que oprime e a perseguir o que vier pela frente. Palavras de amor
comovem, movem; palavras de amor transformam, formam; palavras de amor
habilitam, habitam.
E por que então economizar nessa arte de amar? Por
que viver das sombras, se a luz é tão mais significativa? Por que sentir frio
se há uma lareira por perto? Basta apenas um pequeno esforço de acendê-la.
É por isso que se diz que a felicidade está muito
mais próxima do que se possa imaginar. Infelizmente há pessoas que têm preguiça
de ser felizes, e assim deixam de cultivar momentos simples, porém intensos.
Utilizar o poder da palavra para realizar o milagre
da transformação. A educação decorre de um movimento interno, influenciado por
ambientes externos. O aluno instigado externamente se movimenta internamente, e
assim se transforma.
É assim desde Sócrates, que comparava a educação à
arte da parturição. A criança está pronta lá dentro, mas precisa de um impulso
para que nasça. Sozinho fica muito mais difícil ou quase impossível.
O professor
precisa tomar consciência de que as ideias dos alunos estão ali, esperando
alguém, cujo poder de conhecimento e cuja experiência sejam capazes de
ajudá-los nessa transformação.
E com gentileza fica muito mais fácil porque o ser
humano torna-se dócil frente à gentileza. Suas resistências caem e seus medos
desaparecem, porque do outro lado há alguém que decididamente só quer o bem.
A atitude mais transformadora é a atitude gentil,
que alimenta e realimenta a esperança pelo poder da palavra, e impulsionam para
o sonho. Cada mulher ou homem tocado pela gentileza seja um pouco melhor. E,
sendo um pouco melhor, ajuda a construir um mundo melhor. Mesmo que esse mundo
seja apenas a sua casa, a sua escola ou o círculo de pessoas que estão ao lado.
Na poesia, mais uma vez, a inspiração para a vida.
Testemunha Adélia Prado: "Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de
alaranjado brilhante. Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo".
A tranquila confirmação poética é de Cora Coralina:
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Além disso, "Querer
mudar o mundo sem mudar a esquina é coisa de gente que não entende da força do
primeiro gesto”.
Artigo publicado na Revista Profissão Mestre,
edição de fevereiro de 2008.
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