Como será o amanhã?
Cada um de nós tem destino a cumprir? ou é o acaso o responsável pelo curso de nossas vidas? responda quem puder...
No dia 11 de julho de 1973 o Boeing 707, voo RG-820, que decolou do
aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino a Londres fez pouso
forçado em um campo de cebolas próximo a Orly, na França. Um incêndio no
toalete espalhou fumaça tóxica por toda aeronave. E antes de aterrisar,
122 dos 123 passageiros já haviam morrido sufocados e o único
sobrevivente foi Ricardo Trajano, um jovem engenheiro de 21 anos.
“Quando avistei a fumaça, não continuei sentado, como permaneceram todos
os outros. Fui para frente, até a porta da cabine. Percebi que
morreria. Toda minha vida passou em segundos.”
O rapaz foi retirado do avião, pelos bombeiros, desmaiado e com as
costas queimadas porque o teto desabou em chamas sobre ele. Ficou 52
dias no hospital em Paris e mais 28 na Beneficência Portuguesa, no Rio
de Janeiro. Ricardo Trajano está com 60 anos, é empresário, casado e
pai de duas filhas. Divide a vida em antes e depois do acidente e não
tem dúvida: está no crédito há 39 anos. “Fui premiado com a sorte de
poder viver o segundo tempo da vida. Acredito que haja algo muito além
de nossos pensamentos, alguma força divina que nos orienta. Se isto tem o
nome de destino, acredito, e muito!”
Não é para menos. Ser o único sobrevivente entre 123 pessoas é no
mínimo intrigante, e deixa no ar a pergunta: existe a hora para cada
coisa da vida? Se sim, quem a determina? Que tipo de acontecimento é
este que mata 122, mas salva uma única pessoa? Há quem, como o psicólogo
e praticante do budismo tibetano Salim Zaidan, acredite que casos como o
de Ricardo Trajano expliquem-se por uma relação de causa e efeito na
qual o destino está atrelado. “Esta pessoa criou a condição de se salvar
naquele acidente. Existimos desde tempos imemoriais e quando causa e
circunstância juntam-se, o carma manifesta-se. Ele tinha a
circunstância, mas não a causa. Então, seu destino era sobreviver”,
explica Zaidan.
O especialista em psicologia transpessoal Louis Bulamarqui, autor do
livro Flua – Pare de brigar com você e traga de volta seu alinhamento,
acredita que as escolhas irão influenciar os destinos e que quanto mais
as pessoas estão desconectadas de si, maior é a necessidade de depender
de alguém que lhe aponte o destino. Também não crê no fator sorte e sim
no campo que as pessoas criam para as coisas acontecerem ou não. “O
Universo conspira a favor. Aquilo em que se acredita muito e está no
coração tende a acontecer. A sorte tem este viés.”
Sorte. Esta palavra está associada também à noção de destino – vamos
usar esta palavra, ok? – do farmacêutico e professor Antônio Carlos
Freitas Júnior, 29 anos. Ao formar-se resolveu vir para Belo Horizonte
em busca de melhores oportunidades de trabalho. Comentou com a amiga.
Ela, por sua vez, trabalha com cinema e recusa-se a entrar no ônibus com
fones de ouvido porque grava as conversas para usar como referências
para roteiros. Numa dessas gravações ouviu que precisavam de um
professor de farmácia. Não deu outra: falou para Freitas Júnior. Ele
enviou seu currículo e desde então exerce a atividade. “Trabalho lá há
um ano e amo ser professor, apesar de nunca ter pensado que poderia ser
um. Acredito no acaso, no poder das coincidências e na sincronicidade.
Mas não creio em destino. Acho que não há nada traçado.”
Destino. Concebido como sucessão inevitável de acontecimentos do qual
não se pode escapar, essa palavrinha pode significar que tudo vai dar
certo ou, bem o contrário, vai pelo ralo! A mitologia grega já tratava
do assunto por meio das Moiras, irmãs que determinavam destinos de
deuses e humanos por meio da chamada Roda da Fortuna. A roda era o tear
que utilizavam e o fio que se posicionava no topo da engrenagem
determinava o período mais afortunado da vida, e o que estava embaixo,
os maus momentos. Assim, sucediam-se a boa ou má sorte. E até a morte,
quando o fio era cortado por elas.
Fio da existência preservado, a situação privilegiada de Trajano pode
ser compreendida, de acordo com o matemático Dilcione Nonato, pelo
conceito de probabilidade. Segundo ele, ao se fazer uma retrospectiva em
relação a acidentes de avião, por exemplo, vai-se constatar que de
tantos em tantos desastres haverá um número x de sobreviventes.
“Forma-se a média histórica. Aqui, entra também o acaso, evento raro que
não ocorre comumente, como acertar na mega-sena. O acaso é também uma
medida matemática”, explica Nonato. De acordo com ele não há destino; e
sim probabilidade e acaso. E, se não há destino, não há como prevê-lo.
Seja para cumprir ou escapar dele. “Só é possível prever grandezas
determinísticas e não situações.”
Porém, no século 21, a ideia de destino ainda é bastante forte e há
quem trabalhe com ela e faça previsões. Dulce Campolina é engenheira e
psicóloga. Mas o que exerce é a atividade de astróloga, há 26 anos, por
meio do cálculo do mapa astral. Para ela, o destino existe, pois as
pessoas não escolhem a própria vida porque nascem cercadas por um
contexto. “Mas a noção de destino é desvirtuada quando se imagina que
basta sentar na cadeira e esperar. As pessoas não estão amarradas a ele,
têm que batalhar para aproveitar o que a vida oferece”, afirma a
astróloga. Dulce diz que o mapa é cálculo harmônico e preciso que traz
uma programação, aponta potenciais e dificuldades que podem existir. “Se
a pessoa tem as condições e ambiente propício, pode ser mais fácil
corresponder ao destino. Se não, há que fazer esforço extra”, assinala.
Dulce avalia que conhecer o destino é a melhor maneira de administrá-lo.
“Como disse Ptolomeu: ao sabermos da chegada do inverno, nos preparamos
para ele.”
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A apresentadora Joana Prado e o lutador Vitor Belfort se conheceram no
Brasil, nos anos 90. Ela estava no auge como a bela personagem
Feiticeira e ele já era famoso como lutador profissional e campeão de
MMA. Já haviam ficado, como se diz popularmente, algumas vezes;
participaram juntos do reality show Casa dos Artistas, mas, até
então, nada muito além. Passando férias em Los Angeles com uma amiga, a
moça estava com passagem marcada para regressar ao Brasil, mas resolveu
estender o passeio e foi ao aeroporto remarcar a passagem. Era o ano de
1999 e naquele dia e hora Belfort estava voltando do Japão e pisando no
mesmo aeroporto, o quinto mais movimentado do mundo e, na época, recebia
cerca de 55 milhões de passageiros por ano. “Nossa, encontrá-lo aqui!”
Foi o que pensou Joana. “Nos aproximamos e passamos o restante dos dias
juntos, ele me pediu em namoro em Los Angeles. Terminamos uma época,
reatamos em 2001 e estamos casados há nove anos. Tenho certeza que nosso
encontro foi traçado por Deus, que me colocou ali no mesmo horário que o
Vitor”, afirma Joana.
Sim, ela acredita em destino e o mesmo pensa Vitor Belfort. “Não há
como não acreditar. E é traçado por Deus, que tem um plano para nós. Mas
dentro disso podemos escolher o que quisermos. Mas Ele é onipotente e
já sabe até o que vamos escolher. O meu está sendo traçado e oro para
Deus fechar as portas que não são as dele”, acredita Belfort. Para ele,
Deus nunca traçaria para ninguém um destino ruim. “As coisas acontecem; a
chuva cai para o justo e para o injusto. O acaso é parte de vida.”
Talvez seja a não garantia – a não ser a da própria morte – acerca de
tudo na existência que faça o homem pensar tanto no destino seja como
algo que garante a boa sorte, o acaso favorável ou não, ao bem ou mal,
ao que pode ser previsto. De acordo com o professor de filosofia Olimpio
Pimenta, autor de Razão e Conhecimento em Descartes e Nietzsche, as
pessoas creem no destino porque são assombradas pela responsabilidade de
serem livres e não terem a quem delegar decisões. “No entanto, a
filosofia reconhece a existência do mistério e uma das formas de
interpretá-lo é por meio da religião”, pontua Pimenta.
Geraldo Chamone, 57, é espírita, umbandista e tarólogo. Ele fala que
sente a energia da consulente, suas amarguras, alegrias, e quando ela
corta a lâmina do tarô, as necessidades irão aparecer ali. Chamone irá
interpretá-las. Ele próprio é um predestinado e ao mesmo tempo
intérprete do destino alheio. Explico. Contou que frequenta o centro
espírita desde os 12 anos, quando começou a sofrer o que chama de
obsessões. Daí pra frente a vida, fala ele, foi dedicar-se ao
desenvolvimento espiritual. Ele explica que Deus dá o destino e dele
fazemos o que queremos usando o livre arbítrio. “Mas, ao mudá-lo,
assumimos a responsabilidade pelas consequências da alteração.”
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"A noção de destino é desvirtuada quando se imagina que basta sentar e esperar” Dulce Campolina |
O que é destino
Concebido e entendido como sucessão inevitável de acontecimentos
regidos por algo superior. Seria o condutor da vida e pode estar
relacionado à boa sorte e má sorte. A introdução do elemento sorte
pressupõe a ideia de alteração do destino
Sorte
quase sinônimo de destino, o imaginário popular relaciona a sorte com o
cotidiano e interfere na conduta de quem acredita nela. Em algumas
culturas a sorte pode ser adquirida por meio de amuletos como trevo de
quatro folhas
ou ferraduras de cavalos
Acaso
Pode ter sentidos variados. Pode ser algo que acontece sem objetivo ou
finalidade; algo que acontece sem ser consequência de nada passado; algo
que acontece sem ser explicado por nenhuma relação com coisas
simultâneas ou precedentes
Probabilidade
A probabilidade de um acontecimento é frequência relativa esperada
deste acontecimento. É uma tentativa de quantificar a noção de provável.
A probabilidade de alguém ganhar na mega-sena, por exemplo, com uma
única cartela de seis números é de 0,000002%
Destinada a sobreviver
No dia 14 de julho, em Botucatu (SP), a motociclista Edicléia Baron
Golpian sentiu um incômodo em seu pescoço. Como estava de cachecol,
apenas cortou a mão ao tentar livrar-se do que constatou ser uma linha
de pipa com cerol. Esse tipo de incidente costuma ser fatal e levar à
morte, mas o pano ao redor de seu pescoço salvou-a. Os bombeiros que a
socorreram disseram que a jovem nasceu de novo
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