(recolhidos da Tradição oral)LXI - "O principe encantado"Por A. Thomaz Pires Elvas
O
principe encantado
"Era d'uma vez três irmas que sahiram da sua terra; mas na terra para onde foram havia o costume de cada pessoa fazer o seu fato, e ellas não sabiam costurar; queriam dar os seus vestidos a fazer e não havia quem tomasse conta d'elles, e decidiram por fim ir morar para outra terra.
No caminho foram ter a uma estalagem e perguntaram se havia algum quarto para ellas.
A estalajadeira disse que não, que tinha tudo cheio; mas, se quizessem, havia na frente umas casas para onde podiam ir, mas que apparecia lá um medo.
Ellas disseram:
- Não tem duvida. E foram.
E á noite disseram as duas mais mocas: Vamo-nos a deitar. E disse a mais velha: Vão vocês, que eu ainda fico.
E ficou; estava quasi a escabeçar com somno e: ouviu dizer: Eu cáio, ou não cáio? E assim que ouviu isto foi-se a fugir e metteu-se na cama com as duas irmans.
Na outra noite ficou a do meio. Aconteceu-lhe o mesmo
E na noite do outro dia ficou a mais moça.
Quando ouviu dizer: Eu caio, ou não cáio? respondeu: Pois cae para ahi.
E pela chaminé abaixo cahiu um mólho de chaves.
E ella disse: - Chaves? N'algumas fechaduras hão de servir.
E foi abrindo portas e mais portas d'aquella casa, até que chegou a uma casa onde havia uma cisterna, e sahiu d'ella um preto, que disse:
- Foste muito valente! E's capaz de fazer outra coisa?
- Então o que é?
- E' montares-te nas minhas costas e irmos por essa cisterna abaixo.
- Pois vamos.
Foram-se cisterna abaixo e lá ao fundo chegaram a um palacio; entraram, mas a rapariga não viu ninguem, em nenhuma das salas, e nos outros dias tambem ninguem viu, senão o preto.
E todas as noites, antes de se deitar, tinha á cabeceira da cama um copo de doce, que comia, e dormia-se logo a somno solto.
Um dia disse ao preto que tinha saudades das suas irmans e que ia vêl-as.
O preto não queria, mas ella tanto teimou, que conseguiu.
E diz-lhe agora o preto: "Ha de ser com uma condição: hade-se demorar só tres dias e ao fim de tres dias hade ouvir tres assobios, ao primeiro assobio hade-se despedir de suas irmans, ao segundo hade estar á porta da casa da cisterna e ao terceiro havemos de vir cisterna abaixo".
Ella assim o prometteu. Veiu ás costas do preto, cisterna acima, e foi ter com as irmãs.
Muita festa para a festa, e contou tudo, tudo, quanto lhe tinha succedido.
Diz-lhe agora a irmã mais velha: "Olha, quando te fores, não comas o doce que te põem á cabeceira da cama, não te durmas e põe-te á espera".
Ao fim dos tres dias soaram os tres assobios e aqui vem ella para o palacio ás costas do preto.
N'essa noite foi-se deitar, mas não comeu o doce e esperou, fazendo-se dormida.
Passado algum tempo sentiu chegar uma pessoa e metter-se na cama d'ella.
Deixou-se estar, mas depois accendeu uma véla para ver quem era.
Era um principe, e toda a tremer, deixou cahir um pingo da véla na cabeça do pzincipe, que estava a dormir.
Acordou o principe e disse:
"Mesmo agora me encantaste; e transformou-se n'um passarinho e fugiu."
Ella ficou toda atarantada.
Ao depois, a uma das janellas do quarto do rei d'aquella terra apparecia todos os dias um passarinho a cantar assim:
"Se elrei soubesse
Que eu era filho d'elle
Sopinhas de mel
Me dava a comer."
Os criados tanta vez ouvirem isto, que foram dizel-o á rainha.
Um dia a rainha escondeu se debaixo da cama do rei e esperou o passarinho.
Veiu elle e cantou:
Se el-rei soubesse
Que eu era filho d'elle,
Sopinhas de mel
Me dava a comer.
"Se elrei soubesse
Que eu era filho d'elle
Sopinhas de mel
Me dava a comer."
E diz ella:
"Não o sabe o rei,
Mas sabe-o a rainha;
Anda cá, meu filho,
Que te faço as sopinhas"
(Bolachas com mel - Sopinhas de mel!!!)
receitasdaromy.blogspot.com
Houve grandes festas no palacio e o principe foi buscar a rapariga com quem dormiu tantas noites e casou com ella.
Conto acabado, dinheiro ganhado.
(Elvas).
A THOMAZ PIRES.
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Ver Tb. por exemplo em: bagosdeuva.blogspot.com/2008_04_01_archive.html
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Proverbios & Dictos
DXXV Queres? se diz aos doentes.
DXXVI
Quem tem bocca não manda assoblar.
DXXVII
Quem não tem bocca é que falla.
DXXVIII
Quem mexe no mel sempre lambe.
DXXIX
Agua não quebra osso.
DXXX
A cada canto um espirito santo.
DXXXI
Aldeia-cadeia.
DXXXII
P'ra quem não gosta ha de sobra.
DXXXIII
Pé velhaco não precisa sapato.
DXXXIV
Perna feia não precisa meia.
DXXXV
Primeiro nós, depois vós.
DXXXVI
Primeiro falta a bocca do que a sopa.
DXXXVII
Por bem fazer, mal haver.
DXXXIX
P'ra pouca saude, mais vale nenhuma.
DXL
Se não fosse a bota cortava-lhe a perna.
DXLI
São carnaduras - umas moles, outras duras.
DXLII
Levantar mais cedo para dizer a missa mais tarde.
(Da Tradição oral de Serpa)
M. Dias Nunes
In Tradição II vol. Anno VI, Nº 2, Serpa, Fevereiro de 1904, Volume VI, pp. 28 a 31 (série de 4 contos)
[Digitalizado por joraga (em finais de 2009), (para AA Cultural, Almada), procurando manter a grafia registada na época.]
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