“Todo dia era dia de índio”
Por Mônica Marzano
A presença marcante e o princípio de liberdade defendido pelas tribos viraram até mesmo temas musicais. “Curumim / chama cunhatã / que eu vou contar”, compôs Jorge Benjor e cantou Baby do Brasil. Sinfonias e concertos do “índio de casaca”, Villa-Lobos, também detinham uma pitada de orgulho pelas raízes e a necessidade de fortalecer a identidade nacional.
Mas por que o dezenove de abril? A data das comemorações foi instituída no continente como marco do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, em 1940, no México. Autoridades de diversos países discutiram os interesses dos povos indígenas, mas sem que eles estivessem presentes. Dias de evento se passaram, até que finalmente, em 19 de abril, os índios venceram o medo de agressões e resolveram participar dos debates, compreendendo a importância de decidirem os próprios rumos.
Raízes indígenas
Para falar sobre o assunto, é necessário recorrer a fatos históricos. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), há registros de que a presença humana no Brasil tenha entre 11 e 12 mil anos, mas evidências encontradas na Bahia e no Piauí comprovariam uma ocupação ainda mais antiga. Estima-se que há 500 anos, no “Descobrimento”, aproximadamente 1.300 línguas indígenas diferentes eram faladas no Brasil. Hoje são apenas 180.
Atualmente, o território brasileiro conta com cerca de 460 mil índios em 225 sociedades indígenas que vivem em aldeias. Podemos destacar: Ticuna, Guarani, Caiagangue, Macuxi, Terena, Guajajara, Xavante, Ianomâmi, Pataxó e Potiguara. No entanto, acredita-se que há entre 100 e 190 mil morando fora das terras indígenas, inclusive em regiões urbanas, e outros grupos não reconhecidos junto ao órgão federal indigenista.
No Rio de Janeiro, alguns historiadores revelam uma curiosidade. Durante boa parte do período republicano, a população indígena “desapareceu do mapa”, literalmente, inclusive nos documentos oficiais. Ela ressurgiu somente na década de 1950, quando os índios Guarani, que migraram do sul do país, estabeleceram três aldeias em Angra dos Reis e Parati, onde permanecem até os dias de hoje. Recentemente, uma nova tribo foi estabelecida em Camboinhas, em Niterói.
Somos parte da mesma tribo
Arara, capim, catapora, cipó, cuia, cumbuca, cupim, jabuti, jacaré, jibóia, jururu, mandioca, mingau, minhoca, paçoca, peteca, pipoca, preá, sarará, tamanduá, tapera, taquara, toca, traíra... Você sabia que todas essas palavras têm origem indígena?
No início do texto, vimos as palavras “xará” e “pindaíba”, mas o que elas significam? Xará quer dizer “tirado do meu nome” e pindaíba, “anzol ruim, quando não se consegue pescar nada”. Bem parecido com o sentido que queremos dar, não é mesmo? E "curumim" e "cunhatã"? Significam menino e menina.
A influência também está no vocabulário da fauna e da flora: jaguar (cão, lobo guará), jacaré (o que olha torto, ou de banda), macaco, sagui (pelo), tapera (casa abandonada), ipê (árvore de casca grossa), piracema (a saída dos peixes). Raquel F. A. Teixeira destaca no livro "A Temática Indígena na escola” que 70% do vocabulário da Língua Portuguesa, falada no Brasil, sobre animais e plantas provêm do tupi-guarani.
O idioma está presente ainda em nomes de cidades e acidentes geográficos no país. O nome do estado de "Maranhão", por exemplo, vem de "Mar'Anhan", que significa "o mar que corre". Já "Paraná" significa "rio" no idioma indígena. "Pará" é "oceano" e "Niterói", "Baía do mar morto".
Do mesmo modo, a contribuição pode ser vista em ditados populares. Um deles é "Cada macaco no seu galho", que vem da expressão "Macaca tuiué inti hu mundéo i pú cuimbisca o pé" (Macaco velho não mete mão em cumbuca).
Avanços no ensino público
Na área educacional, a proposta é oferecer escolarização bilíngue aos povos indígenas. Desde 2004, uma deliberação do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro estabeleceu normas para a organização de escolas indígenas no estado.
A rede estadual conta hoje com três unidades: Escola Guarani Karaí Kuery Renda, situada na aldeia Sapukai no município de Angra dos Reis, e as salas de extensão Tava Mirim (aldeia Itatim) e Karaí Oka (aldeia Araponga), ambas no município de Parati.
Para colocar em discussão os rumos da educação indígena no estado do Rio de Janeiro foram organizadas esta semana cinco Conferências Comunitárias Educativas Regionais.
Amar as origens e respeitar as diferenças são lições que devemos aprender e colocar em prática. E, então, “rohóta mbo'ehaópe”? (Vamos à escola?)
http://www.educacao.rj.gov.br
Por Mônica Marzano
A presença marcante e o princípio de liberdade defendido pelas tribos viraram até mesmo temas musicais. “Curumim / chama cunhatã / que eu vou contar”, compôs Jorge Benjor e cantou Baby do Brasil. Sinfonias e concertos do “índio de casaca”, Villa-Lobos, também detinham uma pitada de orgulho pelas raízes e a necessidade de fortalecer a identidade nacional.
Mas por que o dezenove de abril? A data das comemorações foi instituída no continente como marco do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, em 1940, no México. Autoridades de diversos países discutiram os interesses dos povos indígenas, mas sem que eles estivessem presentes. Dias de evento se passaram, até que finalmente, em 19 de abril, os índios venceram o medo de agressões e resolveram participar dos debates, compreendendo a importância de decidirem os próprios rumos.
Raízes indígenas
Para falar sobre o assunto, é necessário recorrer a fatos históricos. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), há registros de que a presença humana no Brasil tenha entre 11 e 12 mil anos, mas evidências encontradas na Bahia e no Piauí comprovariam uma ocupação ainda mais antiga. Estima-se que há 500 anos, no “Descobrimento”, aproximadamente 1.300 línguas indígenas diferentes eram faladas no Brasil. Hoje são apenas 180.
Atualmente, o território brasileiro conta com cerca de 460 mil índios em 225 sociedades indígenas que vivem em aldeias. Podemos destacar: Ticuna, Guarani, Caiagangue, Macuxi, Terena, Guajajara, Xavante, Ianomâmi, Pataxó e Potiguara. No entanto, acredita-se que há entre 100 e 190 mil morando fora das terras indígenas, inclusive em regiões urbanas, e outros grupos não reconhecidos junto ao órgão federal indigenista.
No Rio de Janeiro, alguns historiadores revelam uma curiosidade. Durante boa parte do período republicano, a população indígena “desapareceu do mapa”, literalmente, inclusive nos documentos oficiais. Ela ressurgiu somente na década de 1950, quando os índios Guarani, que migraram do sul do país, estabeleceram três aldeias em Angra dos Reis e Parati, onde permanecem até os dias de hoje. Recentemente, uma nova tribo foi estabelecida em Camboinhas, em Niterói.
Somos parte da mesma tribo
Arara, capim, catapora, cipó, cuia, cumbuca, cupim, jabuti, jacaré, jibóia, jururu, mandioca, mingau, minhoca, paçoca, peteca, pipoca, preá, sarará, tamanduá, tapera, taquara, toca, traíra... Você sabia que todas essas palavras têm origem indígena?
No início do texto, vimos as palavras “xará” e “pindaíba”, mas o que elas significam? Xará quer dizer “tirado do meu nome” e pindaíba, “anzol ruim, quando não se consegue pescar nada”. Bem parecido com o sentido que queremos dar, não é mesmo? E "curumim" e "cunhatã"? Significam menino e menina.
A influência também está no vocabulário da fauna e da flora: jaguar (cão, lobo guará), jacaré (o que olha torto, ou de banda), macaco, sagui (pelo), tapera (casa abandonada), ipê (árvore de casca grossa), piracema (a saída dos peixes). Raquel F. A. Teixeira destaca no livro "A Temática Indígena na escola” que 70% do vocabulário da Língua Portuguesa, falada no Brasil, sobre animais e plantas provêm do tupi-guarani.
O idioma está presente ainda em nomes de cidades e acidentes geográficos no país. O nome do estado de "Maranhão", por exemplo, vem de "Mar'Anhan", que significa "o mar que corre". Já "Paraná" significa "rio" no idioma indígena. "Pará" é "oceano" e "Niterói", "Baía do mar morto".
Do mesmo modo, a contribuição pode ser vista em ditados populares. Um deles é "Cada macaco no seu galho", que vem da expressão "Macaca tuiué inti hu mundéo i pú cuimbisca o pé" (Macaco velho não mete mão em cumbuca).
Avanços no ensino público
Na área educacional, a proposta é oferecer escolarização bilíngue aos povos indígenas. Desde 2004, uma deliberação do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro estabeleceu normas para a organização de escolas indígenas no estado.
A rede estadual conta hoje com três unidades: Escola Guarani Karaí Kuery Renda, situada na aldeia Sapukai no município de Angra dos Reis, e as salas de extensão Tava Mirim (aldeia Itatim) e Karaí Oka (aldeia Araponga), ambas no município de Parati.
Para colocar em discussão os rumos da educação indígena no estado do Rio de Janeiro foram organizadas esta semana cinco Conferências Comunitárias Educativas Regionais.
Amar as origens e respeitar as diferenças são lições que devemos aprender e colocar em prática. E, então, “rohóta mbo'ehaópe”? (Vamos à escola?)
http://www.educacao.rj.gov.br
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