As raízes da ciência atual tiveram sustentação substancial no positivismo (séc. XVIII), que possibilitou o avanço galopante do conhecimento e hoje não se questiona o fato da tecnologia médica ter tido avanços inimagináveis, criando as principais condições que mudaram o estilo de vida das pessoas.
Na saúde, com o avanço das descobertas científicas, o hospital passa de uma instituição aonde se vai para morrer, para uma instituição onde se pretende a cura. Mas, socialmente, a instituição hospitalar representa uma espécie de microcosmo que reflete a sociedade geral. Ali, no hospital, encontramos em doses variadas o que a sociedade tem de mais nobre, bonito e incrível, bem como o que há de mais triste, degradante e violento. Nesse microcosmo social que é o hospital encontramos o santo e o bandido, e nem sempre o bandido morre no final. Encontramos o cristão voluntarioso, caridoso, atencioso e o ateu, técnico científico e eficiente do qual não se pode prescindir. Vemos a criança, que tende a exaltar sentimentos e monopolizar atenções e o velhinho que luta para viver, com seus 90 anos, embora a sociedade (e o próprio hospital como reflexo) não lhe sorria mais tanto.
No hospital a humanização é ameaçada pela própria incongruência do destino, das pessoas e das circunstâncias. Ali existem tanto as jovens mulheres querendo ser mães e não podem por problemas de esterilidade, como as outras que, sendo férteis, desperdiçam vidas e promovem abortos. No hospital há pessoas lutando com todas as forças para viver e há também os médicos ocupados em salvar aqueles que acabam de fazer de tudo para tirar a própria vida. Existem, como em toda sociedade, os histéricos que ludibriam e passam na frente de crianças com queimaduras, existem médicos, como tantos outros profissionais, que ocultam a competência quando o dinheiro é pouco, existem os técnicos de laboratório que fazem greve, os diretores que aferem lucro e os contadores que fraudam a previdência....
Mas tem também as irmãs de caridade que consolam, bombeiros que fazem parto na ambulância... Enfim, o hospital representa a sociedade e não costuma ser nem mais nem menos desumanizada que esta.
Assim sendo, ao se falar da desumanização das instituições de saúde, devemos lembrar que essas instituições, como quaisquer outras, refletem a problemática daquilo que acontece em nossa sociedade. Se pretendermos alguma coisa mais séria e profunda em relação ao tratamento que se dispensa às pessoas na área da saúde, devemos buscar antes, na sociedade, as raízes da desumanização dos contactos interpessoais. A humanização da instituição da saúde deve passar, obrigatoriamente, pela humanização maior e condicionante de toda a sociedade.
Afinal, o que é ser um profissional humanizado?
Em razão do desenvolvimento tecnológico na medicina, em particular, alguns aspectos mais sublimes do paciente, tais como suas emoções, suas crenças e valores, ficaram em segundo ou terceiro planos. Apenas sua doença, objeto do saber cientificamente reconhecido, passou a monopolizar a atenção do ato médico, portanto, com esse enfoque eminentemente técnico a medicina se desumanizou.
Humanizar o atendimento não é apenas chamar a paciente pelo nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente mas, além disso, também compreender seus medos, angústias, incertezas dando-lhe apoio e atenção permanente.
Humanizar também é, além do atendimento fraterno e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente é valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos elementos implicados no evento assistencial. Na realidade, a Humanização do atendimento, seja em saúde ou não, deve valorizar o respeito afetivo ao outro, deve prestigiar a melhoria na vida de relação entre pessoas em geral.
Entre os tópicos importantes na humanização do atendimento em saúde escolhemos alguns, poucos mas relevantes, para registrar aqui; o interesse e competência na profissão, o diálogo entre o profissional e o usuário e/ou seus familiares, o favorecimento de facilidades para que a vida da pessoa e/ou de seus familiares seja melhor, evitar aborrecimentos e constrangimentos e, por fim o respeito aos horários de atendimento.
É claro que o tema aqui abordado é Humanização do Atendimento em Saúde, entretanto, tomando-se por base esses cinco quesitos, quem não gostaria de vê-los humanizados em todas as dimensões da vida em sociedade e não apenas no atendimento em saúde. Não encontramos razões plausíveis para que o apelo de humanização seja exclusivo para área de saúde, já que essa área é tão carente em humanização quanto as demais.
FONTE: Palestra exposta no VII Simpósio de Relacionamento Terapeuta-Paciente do Hospital Américo Bairral / Itapira - SP – 2004 (psiqweb)
Na saúde, com o avanço das descobertas científicas, o hospital passa de uma instituição aonde se vai para morrer, para uma instituição onde se pretende a cura. Mas, socialmente, a instituição hospitalar representa uma espécie de microcosmo que reflete a sociedade geral. Ali, no hospital, encontramos em doses variadas o que a sociedade tem de mais nobre, bonito e incrível, bem como o que há de mais triste, degradante e violento. Nesse microcosmo social que é o hospital encontramos o santo e o bandido, e nem sempre o bandido morre no final. Encontramos o cristão voluntarioso, caridoso, atencioso e o ateu, técnico científico e eficiente do qual não se pode prescindir. Vemos a criança, que tende a exaltar sentimentos e monopolizar atenções e o velhinho que luta para viver, com seus 90 anos, embora a sociedade (e o próprio hospital como reflexo) não lhe sorria mais tanto.
No hospital a humanização é ameaçada pela própria incongruência do destino, das pessoas e das circunstâncias. Ali existem tanto as jovens mulheres querendo ser mães e não podem por problemas de esterilidade, como as outras que, sendo férteis, desperdiçam vidas e promovem abortos. No hospital há pessoas lutando com todas as forças para viver e há também os médicos ocupados em salvar aqueles que acabam de fazer de tudo para tirar a própria vida. Existem, como em toda sociedade, os histéricos que ludibriam e passam na frente de crianças com queimaduras, existem médicos, como tantos outros profissionais, que ocultam a competência quando o dinheiro é pouco, existem os técnicos de laboratório que fazem greve, os diretores que aferem lucro e os contadores que fraudam a previdência....
Mas tem também as irmãs de caridade que consolam, bombeiros que fazem parto na ambulância... Enfim, o hospital representa a sociedade e não costuma ser nem mais nem menos desumanizada que esta.
Assim sendo, ao se falar da desumanização das instituições de saúde, devemos lembrar que essas instituições, como quaisquer outras, refletem a problemática daquilo que acontece em nossa sociedade. Se pretendermos alguma coisa mais séria e profunda em relação ao tratamento que se dispensa às pessoas na área da saúde, devemos buscar antes, na sociedade, as raízes da desumanização dos contactos interpessoais. A humanização da instituição da saúde deve passar, obrigatoriamente, pela humanização maior e condicionante de toda a sociedade.
Afinal, o que é ser um profissional humanizado?
Em razão do desenvolvimento tecnológico na medicina, em particular, alguns aspectos mais sublimes do paciente, tais como suas emoções, suas crenças e valores, ficaram em segundo ou terceiro planos. Apenas sua doença, objeto do saber cientificamente reconhecido, passou a monopolizar a atenção do ato médico, portanto, com esse enfoque eminentemente técnico a medicina se desumanizou.
Humanizar o atendimento não é apenas chamar a paciente pelo nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente mas, além disso, também compreender seus medos, angústias, incertezas dando-lhe apoio e atenção permanente.
Humanizar também é, além do atendimento fraterno e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente é valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos elementos implicados no evento assistencial. Na realidade, a Humanização do atendimento, seja em saúde ou não, deve valorizar o respeito afetivo ao outro, deve prestigiar a melhoria na vida de relação entre pessoas em geral.
Entre os tópicos importantes na humanização do atendimento em saúde escolhemos alguns, poucos mas relevantes, para registrar aqui; o interesse e competência na profissão, o diálogo entre o profissional e o usuário e/ou seus familiares, o favorecimento de facilidades para que a vida da pessoa e/ou de seus familiares seja melhor, evitar aborrecimentos e constrangimentos e, por fim o respeito aos horários de atendimento.
É claro que o tema aqui abordado é Humanização do Atendimento em Saúde, entretanto, tomando-se por base esses cinco quesitos, quem não gostaria de vê-los humanizados em todas as dimensões da vida em sociedade e não apenas no atendimento em saúde. Não encontramos razões plausíveis para que o apelo de humanização seja exclusivo para área de saúde, já que essa área é tão carente em humanização quanto as demais.
FONTE: Palestra exposta no VII Simpósio de Relacionamento Terapeuta-Paciente do Hospital Américo Bairral / Itapira - SP – 2004 (psiqweb)
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